Tecnologia: o impacto mental do excesso

Tecnologia: o impacto mental do excesso


A pandemia contribuiu para o uso excessivo da tecnologia, o que tem gerado fadiga física e mental. Por isso, é importante estar atento aos sinais do corpo e inserir atividades diárias que auxiliem a vivenciar as coisas simples do cotidiano.

Por Fernanda Nardo.


A tecnologia ajuda a mediar as relações profissionais e pessoais, ela faz parte do cotidiano das pessoas e serve para facilitar e trazer mais conforto ao executar tarefas e outras atividades. Porém, após mais de um ano de pandemia, a exposição excessiva do uso da tecnologia tem gerado problemas mentais, como fadiga, ansiedade e exaustão, além de distúrbios físicos, como dores nos ombros, pescoço e cansaço visual.

De acordo com o psicólogo e doutorando em tecnologia e sociedade, Pedro Braga Carneiro, com algumas dinâmicas próprias do nosso tempo e na forma que se configuram as relações atuais, ganham destaque aquelas tecnologias que exigem super atenção e maior disponibilidade, principalmente, neste momento de pandemia.

“Esses aplicativos foram pensados para prender ao máximo a atenção e gerar um comportamento de disponibilidade permanente. Toda a dinâmica das notificações e estímulos que as plataformas oferecem, tem como objetivo fazer o usuário permanecer o máximo de tempo possível conectado”, explica.

Acontece que essa disponibilidade permanente, alimentada pela dinâmica dos aplicativos, tem gerado uma sensação de fadiga muito grande em parte da população. Para Carneiro, fazer tudo online, como trabalhar, estudar e ter momentos de lazer em frente ao computador, tem retirado dos indivíduos as possibilidades de viver com mais tranquilidade.

“Esse processo tem nos tirado a possibilidade de fazer pausas, de viver os processos de deslocamento de uma atividade para outra, e com isso fica tudo muito igual. Não temos tempo de respirar e vamos sentindo os prejuízos dessa exaustão, a pressão de sentir o tempo todo que estamos sempre disponíveis”.

É preciso estar atento aos sinais

Segundo o psicólogo, as dinâmicas de reforçamento que muitas tecnologias oferecem têm gerado comportamentos de dependência. É preciso estar atento à mudança de rotina e aos sinais que o corpo dá. “Se o tempo que dedico à utilização das plataformas tem roubado o tempo de outras atividades, prejudicado a minha alimentação, meu sono, as atividades domésticas, isso já é um sinal de reflexão para repensar esses comportamentos”, explica.

No entanto, muitas pessoas estão envolvidas em uma dinâmica de trabalho e estudo que exige um tempo maior de conexão. Por isso, não adianta apenas querer mudar, é preciso pensar em toda a conjuntura social que contribui para que determinado indivíduo faça o uso prejudicial da tecnologia.

“Não adianta apenas o profissional estabelecer horários e uma rotina, se o seu superior segue enviando mensagem às 20h, por exemplo. É importante trabalhar isso de forma coletiva, para que todos entendam esse momento e criem em conjunto soluções”, diz Carneiro.

Além disso, essa mudança para o trabalho de maneira mais virtual gera um cansaço maior, por isso, é preciso respeitar os limites do nosso corpo e da nossa mente para não chegar à exaustão. “Se estou em frente ao computador, preciso desprender muita mais energia e atenção para absorver e significar os conteúdos, visto que essa dinâmica de concentração se torna prejudicada”, diz.

Dar espaço aos estímulos diferentes – Segundo o psicólogo, para compensar o uso de tecnologia, uma alternativa é abrir mão dos recursos tecnológicos em alguns momentos para estimular o cérebro de outras formas. Afinal, o ser humano não é feito apenas para produzir o tempo todo, em uma relação meramente utilitarista com as coisas. Os recursos tecnológicos disputam a atenção das pessoas de forma a tornar todos os processos da vida  produtivos, inclusive, os momentos de lazer.

“Até quando as pessoas estão no lazer, elas estão produzindo e compartilhando conteúdo para as redes sociais, por exemplo. Isso gera uma ansiedade, uma sensação de estar sempre a serviço de alguma coisa, não é possível sustentar isso em longo prazo, isso gera ansiedade”, diz.

Parece de fato que os recursos tecnológicos ajudam a produzir até um sentimento de culpa, o que gera a dificuldade de se desligar. Mas é preciso abrir mão dos potenciais desses aparelhos e plataformas em alguns momentos do dia, para viver outras formas de ser e estar no mundo. “Precisamos viver outras formas analógicas, manuais, que contemplem relações presenciais, a falta disso vem sendo percebida por muitas pessoas neste contexto de pandemia”, afirma o psicólogo.

Por isso, ele destaca a importância dos momentos de ócio, de lazer, tempos para tarefas que conectem as pessoas com as coisas mais simples da vida. “Nos períodos de trabalho e estudo, uma boa alternativa seria utilizar uma agenda e o caderno, para se desligar um pouco da necessidade das ferramentas digitais. Tentar fazer algumas pausas durante o dia também é essencial. Além disso, é importante destinar um tempo de qualidade para atividades mais lúdicas como marcenaria, culinária, dança, para que não estejamos tão fixados nessas plataformas”, ressalta o especialista.   

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